Ao abrir a caixa de um iPhone recém-comprado por R$ 8.549 pela Amazon, a empreendedora digital Paula Rosa, de 44 anos, não encontrou um aparelho, mas sim um pedaço de azulejo. A cena, gravada por ela mesma, aconteceu na última sexta-feira, 19, em Divinópolis, em Minas Gerais, e rapidamente se tornou um retrato de frustração diante de uma compra que deveria simbolizar segurança.
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Foto: Reprodução/@sou.paularosa/TikTok |
"Na hora eu não pensei. Fiquei em estado de choque. E depois veio aquele desespero, porque não é um valor baixo", contou Paula ao Terra.
“Comprei um iPhone na Amazon e veio isso aqui"
foi o que eu recebi. Uma pedra! Isso mesmo, vocês estão vendo: uma pedra. Estou muito nervosa. Quando abri a caixa e vi isso, fiquei em choque. Achei que a empresa fosse me ajudar, mandando outro aparelho ou me reembolsando”, desabafou.
A confiança na empresa, diz ela, foi o que motivou a compra. "Exatamente por isso que eu escolhi comprar lá, porque eu confiava muito na empresa. [...] Eu encontrei até valores melhores em outros lugares, mas eu não comprei por medo. Olha que ironia. Aí eu me senti segura de comprar lá, porque é realmente muito tempo que eu compro lá. E eu achei que estava segura, mas aconteceu o que aconteceu".
Paula contou que o pacote externo da Amazon estava intacto, mas a caixa do iPhone chamou sua atenção: estava amassada e sem o plástico protetor original. "E ela estava um pouco amassada, meio suja. Eu comecei a gravar, porque já trabalho com redes sociais e também porque achei estranho. Quando eu abri, de fato, estava lá ao azulejo".
A empreendedora afirma que entrou em contato com o suporte da Amazon logo após o ocorrido. "Num primeiro momento, eles me falaram que iriam fazer o reembolso. Então, eu fiquei um pouco mais tranquila. Só que foi demorando, e meu pedido não mudava, continuava como entregue. Depois de muitas ligações e conversas, no domingo, a resposta definitiva deles foi essa: não vamos restituir o valor pago e nem enviar outro celular, porque quando a encomenda saiu do centro de distribuição, o celular estava na caixa. Foi só isso que alegaram".
Paula decidiu verificar o número de série do aparelho que constava na nota fiscal e na embalagem. A consulta no site da Apple revelou que o celular havia sido ativado em 1º de setembro -- 17 dias antes da compra.
"Essa é a prova mais incontestável que eu tenho. Porque como eles alegam que o celular estava na caixa? Se o celular está lá ativo na Apple desde o dia 1º, porque eles me venderam um celular na 'caixa lacrada' no dia 18? Esse foi o mais absurdo pra mim".
Ações legais e ataques virtuais
Para se resguardar, Paula registrou boletim de ocorrência e acionou a operadora do cartão de crédito. "Eles me pediram o prazo até sexta-feira pra olhar o caso. Então eu estou esperando a devolutiva. Depois disso, ou eu vou no Procon ou já vou direto pra Justiça", disse.
Além do prejuízo financeiro, ela relata ter sofrido ataques nas redes sociais após publicar o vídeo sobre o caso. "Eu estou sendo massacrada na internet. Muita gente me acusando de querer dar golpe na empresa, de querer mídia. Eu vou conversar isso com o meu advogado, porque eu estou sofrendo danos morais reais".
A reportagem buscou posicionamento da Amazon, mas não obteve retorno até a publicação. O espaço segue aberto.
O que diz o Código de Defesa do Consumidor
Para a advogada especialista em direito do consumidor, Brenda Loiola, o caso expõe falhas graves. "Esse caso concreto é absurdo, contudo revela, uma vez mais, o quanto o consumidor sofre abuso no mercado de consumo. Essa situação descumpre o Código de Defesa do Consumidor de inúmeras formas, podendo citar de forma objetiva a violação ao direito básico do consumidor à informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços colocados no mercado (Artigo 6º, III, CDC), o direito à proteção contra propagandas enganosas e abusivas (artigo 6º, IV, CDC) e a efetiva prevenção e reparação dos danos causados (artigo 6º , VI, CDC)".
Segundo ela, em situações semelhantes o consumidor deve agir de forma imediata. "O consumidor deve primeiramente entrar em contato com a loja e manifestar o desejo pelo reembolso do produto, já que não condizente com o efetivamente adquirido. [...] Ao entrar em contato diretamente com a plataforma ou com o vendedor, o consumidor precisa observar a forma como o problema foi tratado para saber se será solucionado com o próprio fornecedor do produto e, não sendo o caso, é muito aconselhável promover reclamação perante o Reclame Aqui e a plataforma consumidor.gov."
Loiola ainda destaca a importância do registro visual da abertura da encomenda, como Paula fez. "Embora não seja absolutamente obrigatório, é bastante recomendado gravar o momento da abertura de uma compra online (o chamado unboxing) para ter uma prova em caso de danos, extravio ou insatisfação com o produto. [...] Nas relações de consumo, conseguir comprovar os abusos é essencial, então essa gravação é mais uma forma de instruir um eventual processo, caso a demanda não seja resolvida diretamente com o vendedor".
Fonte: Portal Terra / Foto: Reprodução/@sou.paularosa/TikTok