Dezessete dias antes de
passar a faixa presidencial para Dilma Rousseff, Lula realizou uma
viagem sentimental ao Nordeste. Vistoriou pela última vez as obras da
transposição do Rio São Francisco.
“Estou percebendo que a
obra vai ser inaugurada definitivamente em 2012, a não ser que aconteça
um dilúvio…” Embora não tenha ocorrido nenhum dilúvio, a promessa de
Lula converteu-se em constrangimento para Dilma Rousseff, co-responsável
pelo vexame.
Chefe da Casa Civil de Lula, Dilma coordenava o PAC, que tinha na transposição sua mais vistosa prioridade.
Na campanha de 2010, a
obra foi à vitrine como um grande feito do presidente-operário e da
candidata-gestora. Decorridos dois anos de sua presidência, Dilma
manuseia contas que dão ao discurso de campanha a aparência de um
estelionato verbal. Pelos dados oficiais, menos da metade do
empreendimento (43%) está pronto.
Ministra, Dilma
avalizara um orçamento de R$ 4,8 bilhões. Presidente, convive com
previsões que jogam o custo das obras para R$ 8,4 bilhões. As
empreiteiras reivindicam mais. Começam a pipocar as denúncias de
corrupção. O cronograma agora prevê que a fita será cortada por uma
Dilma reeleita ou, em caso de dilúvio eleitoral, pelo sucessor dela.
Coisa para 2015. O TCU avisa que, se não melhorar a gestão, o atraso
pode ser maior.
Na próxima terça-feira
(19), uma comissão especial constituída no Senado para esquadrinhar a
encrenca ouvirá as explicações de representantes de 12 empreiteiras que
atuam na transposição. Em outubro de 2010, quando Dilma foi eleita, o
governo trombeteava a presença de 9 mil operários nos canteiros que
fervilhavam à beira do São Francisco. Hoje, o Ministério da Integração
Nacional, responsável pela obra, se esfalfa para chegar ao meio do ano
com pelo menos 6 mil trabalhadores na ex-prioridade do PAC.
Chama-se Fernando
Bezerra o ministro da Integração. Por ironia, é afilhado político do
governador pernambucano Eduardo Campos. Candidatando-se à Presidência em
2014, o mandachuva do PSB talvez se anime a dividir com Dilma as
explicações sobre o malogro do projeto que deveria ter livrado o
sertanejo do flagelo da seca no ano da graça de 2012.
Ouvido pela comissão do
Senado em dezembro passado, o apadrinhado de Campos empilhou os entraves
que encareceram e atrasaram as obras: falhas no projeto básico,
abandono de canteiros por algumas empresas, fragmentação dos contratos
entre cerca de 90 construtoras, inexistência de titularidade de terras e
burocracia nas desapropriações. Citou até a conversão da Delta de
construtora em caso de polícia como um dos empecilhos.
Crivado de críticas por
alguns senadores, Fernando Bezerra discorreu sobre o impressionante sem
fazer a concessão de um ponto de interrogação: “Não faltou planejamento
nem gestão”, disse o ministro. Como assim? “É porque é complicado, mesmo
com projetistas do mais alto quilate técnico.” Josias de Souza